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  • Foto do escritorJoão Ritta

Música para os olhos: a nova voz das gerações

MTV Brasil e a sua influência no fazer da comunicação brasileira.


Conteúdo alternativo, entretenimento, arte e polêmica: quem não gosta disso em tempos de Twitter, ou melhor, X? Falar sobre os principais assuntos do mundo pop é característica comum dos canais de comunicação abertos aos jovens nascidos imersos na internet. Mas e quando isso ainda não era possível? O que fazer? Durante 23 anos, a resposta se encontrava do outro lado das telas de TV conectadas por antenas parabólicas e com aquela qualidade de imagem duvidosa. O paraíso tinha um nome: MTV Brasil!


Até a década de 90, o que poderíamos chamar de “conexão com mundo” centrava-se na informação difundida pelos noticiários que pouco retratavam as juventudes da época e criavam, a partir da formalidade televisiva, o sentido mínimo de comunidade entre as pessoas. Tudo mudou em 20 de outubro de 1990, quando Astrid Fontenelle surgia nas telinhas para anunciar que estava no ar o canal da MTV Brasil, responsável por representar, conscientizar, abraçar e, é claro, comunicar o comportamento do jovem brasileiro.


GIF da Ivete Sangalo dançando com confetes dourados caindo

Fonte: 02082005, via tenor


Imagine um mundo não tão “adulto”…


Uma televisão jovem, de jovens e para jovens. Importada diretamente dos Estados Unidos, o canal Music Television Brasil nasceu da necessidade de mudar o foco para quem se fazia a comunicação televisiva. Saem os repórteres de terno, gravata, com textos roteirizados e matérias formais para entrar em cena profissionais, não tão profissionais assim. A MTV Brasil falava com o público, na faixa etária dos 12 aos 25 anos, sobre assuntos que rolavam no “mundo de seu interesse”, ou seja, tudo sobre o música, celebridades e cultura pop, engajando temas que caracterizariam o comportamento e as ideias das futuras gerações.


Anti-televisão

Incentivando o seu caráter vanguardista, o modo de pensar a programação da emissora e propagar informação destacavam-se por si só. Coloquialidade e liberdade eram as chaves que guiavam todo o conteúdo dentro da MTV, fugindo de qualquer estilo de roteiro e padrões comunicacionais conhecidos até então. A permissão de falar com os jovens e na linguagem dos jovens consolidou o canal dentro de seu público seleto e alternativo, como era conhecido na época. Era a primeira vez que um canal de televisão centralizava o adolescente e jovem adulto como relevante. Multiplicar as formas de conversar com quem está do outro lado das telas e ainda explicitar que todos podemos falar sobre assuntos de nosso interesse com pessoas que compartilhem dele conosco foi um dos papéis primordiais do canal para a sua influência na televisão nacional.


GIF de passista sambando no sambódromo com fantasia de penas rosas

Fonte: Premios MTV Miaw, via tenor


Sons que moveram multidões


Falar de som e pensar em televisão é meio ambíguo, não? Na verdade, não até a MTV surgir. O mercado musical brasileiro foi construído em torno da radiodifusão, usando do potencial desse meio de comunicação de massa para lançar renomados artistas da música nacional. Mas vale lembrar que, nesse cenário, encontravam-se os artistas no “mainstream” da época, ou seja, as músicas aceitas pelos mais velhos, grupo etário mais influente da sociedade.


O surgimento da “music television” abriu caminho para a disseminação de cenas musicais alternativas, como o rock, bem como para aproximar o público brasileiro de artistas estrangeiros.


Os olhos escutam música!

A emissora teve um papel importante por realizar a curadoria de artistas e músicas que eram tendências no mercado internacional e nacional para, então, divulgá-los em sua programação por meio dos videoclipes. Produções audiovisuais dedicadas à música ganharam o gosto dos telespectadores brasileiros. Pela primeira vez, muitos conheciam e se sentiam próximos de seus artistas favoritos, apreciando-os para além de sua voz. Ver a música e entender a semiótica por trás de canções, assistindo aos videoclipes, permitiu um enriquecimento da cultura jovial que, a partir daquele momento, sentia-se parte de uma comunicação com senso crítico, dotada do conhecimento trazido pelos cantores, para tirar suas próprias conclusões sobre o mundo.


Red Hot Chilli Peppers, Michael Jackson, Nirvana, Spice Girls, Paul McCartney, Bowie, The Who, Beyoncé, Prince, Rihanna, Britney Spears, N Sync, Charlie Brown Jr., Raimundos, CPM22, Fresno, Cachorro Grande, Restart, NX Zero… a lista de artistas que tinham seus projetos estampados nas telas alcançadas pela MTV é gigantesca! Mas todos têm algo em comum: juntaram, a partir do canal, uma legião de “fanclubes” e um carinho do público brasileiro pela arte do entretenimento musical.


A MTV Brasil foi responsável por trazer o que era novo ao seu público–alvo, colocando-o no holofote principal de sua comunicação. Vemos aqui, mais um exemplo de como a arte pode unir pessoas e construir subculturas.


GIF de carro alegórico de cavaleiro montado em cavalo branco desfilando no Sambódromo

Fonte: Saturday GIF, via tenor

Todos faziam MTV!


A proximidade de uma marca com o seu público é determinada pela relação entre ambos: como é feito o processo de troca de informação e engajamento, qual a afinidade do público e como ele afirma isso, entre outras formas de medição. No caso da MTV Brasil, seu sucesso de engajamento com a “geração MTV” se construía a partir do convite feito pela emissora ao público para interagir com a programação.


“Quem é nascido no início do século XXI certamente lembra de tentar ligar para a pequena Maísa, no Bom Dia e Cia, na esperança de ganhar um Playstation.”

Esse é um ótimo exemplo para entender como o público construia a MTV junto com a própria empresa. Programas como o Disk MTV, abriam um caminho entre os estúdios da emissora e a casa de seus telespectadores. O programa selecionava as músicas mais pedidas pela galera e transmitia-as por meio de um ranking de videoclipes, é claro. Sem contar outras formas memoráveis de entrar em contato com fãs da música, como o MTV Video Music Brasil, premiação da emissora que reunia os melhores videoclipes nacionais e internacionais escolhidos por votação aberta e levando tietes ao encontro dos astros em uma noite repleta de performances.


VJ’S

É impossível falar de MTV Brasil sem lembrar dos VJ’s, apresentadores dos programas transmitidos diariamente. Voltando ao tópico da “anti-televisão”, os VJ’s não eram profissionais da comunicação renomados, muito pelo contrário. A emissora fazia audições com pessoas sem experiência no ramo da televisão, e que propagassem a língua dos jovens. O que tinha tudo para desandar a tentativa de sucesso do canal se tornou a peça-chave para a conquista da popularidade. Os “vídeo jokers” se tornaram comunicadores autênticos e expressivos, capazes de envolver o público a partir de suas vivências, algo que tornava sua conversa próxima ao telespectador. Eles foram a representação de uma comunicação humanizada nos anos de atividade da emissora.


Apresentadores renomados na atualidade como Marcos Mion, Astrid Fontenelle, Tatá Werneck e Zeca Camargo tiveram suas portas abertas ao mundo da televisão graças aos quadros de VJ’s da MTV Brasil. Sua maneira de entregar entretenimento e informação moldou a forma de transmitir programas nas principais emissoras nacionais, como a Rede Globo, o SBT e a Record, por exemplo. Grandes públicos gostam de conteúdos leves e pessoais, de modo que se sintam parte das narrativas apresentadas e ainda consigam construí-las coletivamente, como ocorre em qualquer programa de auditório. A MTV tem um papel crucial na forma da televisão atual.


Banner de campanha do Ministério da Saúde sobre uso de camisinhas no carnaval

Fonte: Matheus Talles, via tenor


Nem toda piada é por um acaso


Apesar da coloquialidade e descontração atribuída ao seu posicionamento de marca, a MTV se preocupava, e muito, com questões sociais e temas que deveriam ter a atenção do jovem. Em consonância com o pensamento de muitos cantores em propagar palavras de conscientização e bondade às juventudes, como Michael Jackson, o canal fazia de propagandas criativas, mensagens educativas para o seu público.


Posicionar-se politicamente e defender causas sociais polêmicas sempre foi algo arriscado para marcas se sustentarem no mercado, porém, isso não parecia um problema para a MTV. Seguindo as características irreverentes da emissora global, a versão brasileira do canal se posicionava ativamente em debates sociais necessários. A MTV Brasil era um canal de público seleto que fazia muito barulho. Campanhas contra o HIV, a favor da liberdade sexual e de gênero, até mesmo propagandas para fazer o público sair de frente das telas e ler um livro: a responsabilidade social de formar jovens dotados de senso crítico por meio do conteúdo satírico acompanhou o canal desde o início.


Seu público fomentava o diálogo de tais assuntos. Ao passo que abrangiam diferentes camadas e grupos sociais, a MTV conquistava diversas pessoas que viam no canal uma forma de expressão livre, sendo encorajadas a desestigmatizar assuntos importantes para a defesa dos direitos pessoais e políticos. Entender para quem se está comunicando e conseguir gerar valor a partir de seu público é uma peça valiosa para uma marca.


Banner de campanha do Ministério da Saúde sobre uso de camisinhas no carnaval

Fonte: Prêmios MTV Miaw, via tenor


O fracasso faz sucesso até hoje!


Suscetível às mudanças na sociedade e, principalmente, à inserção direta da internet na comunicação social, o canal MTV Brasil encerrou suas atividades em 2013. Plataformas como o Youtube e demais redes sociais em ascensão alteraram a publicidade do mercado musical e a maneira como os jovens interagiam com o mundinho pop, fatores que retiraram a centralidade da emissora da cultura teen. A internet que conhecemos hoje iniciava sua formação e brigava com outros meios de comunicação pela nossa atenção. 


Onisciência: fórmula contra a efemeridade

De toda forma, o exercício de influência da MTV Brasil se espalhou por camadas que vão muito além do televisionamento da música, como vimos nesse artigo. A emissora, e, mais especificamente, sua comunicação, significou a oportunidade de sucesso para jovens artistas ao encontrarem um meio de conexão com seu público, ao mesmo tempo que estreou um novo formato de disseminação de informação pelo audiovisual  durante seus 23 anos em atividade.


O que podemos aprender? 

Apesar de, atualmente, o canal MTV em funcionamento ser comandado pela matriz estadunidense. A antiga MTV Brasil vive através de seu legado que é visto nos múltiplos programas, rostos e caminhos explorados pela comunicação atual. Boas doses de conhecimento de público, interatividade, pessoalidade de marca e autenticidade foram suficientes para alavancar o canal em seus anos áureos. Antecedendo a produção de conteúdo instantâneo, a MTV Brasil mostrou a relevância de entender as tendências do público jovem para fazer sua comunicação efetiva por si só. 


Enquanto atuantes de um mercado cada vez mais volátil, marcas precisam olhar para os diversos tipos de público, de forma a entender o seu comportamento. O relacionamento de uma marca com os meios diz respeito à motivação para o sucesso dos negócios, ou seja, a maneira que empresas se expressam é tendenciosa de garantir sua consolidação e destaque no setor.  


Explore caminhos para comunicar sua marca de forma autêntica, sempre levando em conta seu nicho de mercado e, é claro, o público! ; )


Bruna Marquezine

Fonte: Prêmios MTV Miaw, via tenor


Pois é… Mesmo que você não tenha nascido a tempo de ter os seus anos de geração MTV, certamente vivencia os efeitos da comunicação desse canal, atualmente. Marcas que entendem seu público, desenvolvem um diálogo capaz de marcar gerações.



Mulher branca com cabelos cacheados escuros sorrindo com uma tiara de carnaval de estrelas na cabeça e camisa de nuvens

Esse artigo foi escrito por João Ritta, nosso estagiário de Redação!

Ele passa o horário de almoço inteiro vendo videoclipes

dos seus artistas favoritos e é a favor da volta da antiga MTV Brasil!


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